quarta-feira, 8 de julho de 2009

Ensaio Sobre A Cegueira

O filme começa num ritmo acelerado, com um homem que perde a visão de um instante para o outro enquanto dirige de casa para o trabalho e que mergulha em uma espécie de névoa leitosa assustadora. Uma a uma, cada pessoa com quem ele encontra - sua esposa, seu médico, até mesmo o aparentemente bom samaritano que lhe oferece carona para casa terá o mesmo destino. À medida que a doença se espalha, o pânico e a paranóia contagiam a cidade. As novas vítimas da "cegueira branca" são cercadas e colocadas em quarentena num hospício caindo aos pedaços, onde qualquer semelhança com a vida cotidiana começa a desaparecer. Dentro do hospital isolado, no entanto, há uma testemunha ocular secreta: uma mulher que não foi contagiada, mas finge estar cega para ficar ao lado de seu amado marido. Armada com uma coragem cada vez maior, ela será a líder de uma improvisada família de sete pessoas que sai em uma jornada, atravessando o horror e o amor, a depravação e a incerteza, com o objetivo de fugir do hospital e seguir pela cidade devastada, onde eles buscam uma esperança.



É um filme chocante. Não pelas cenas "nojentas", mas pela força que elas têm e o significado que elas carregam. Com certeza, é um filme pra quem tem estômago.

A partir do momento que aquelas pessoas entram em quarentena, deixam de ser humanas e passam a viver como animais, mantendo uma vida vazia procurando apenas lutar para suprir os seus instintos básicos. Sem higiene alguma, matando por comida, praticando um sexo quase que selvagem, apenas por instinto, matando para tentar sobreviver na selva.

Outra coisa que me chamou atenção, é o fato das personagens não terem nomes, universalizando a história de cada um. Eles podem ser qualquer pessoa, não limitados a um ser único. Você pode se imaginar na pele de qualquer um naquela situação.

Mas nada me deixou mais chocada do que a animalização do ser humano. O fato do filme ter sido baseado num livro me obrigou a relacionar tudo que eu via com Literatura. E apesar do Saramago ser Moderno, o livro, pra mim, tem claras influências Naturalistas - a transformação dos seres humanos em animais, a afloração dos sentidos primitivos.

Assistindo ao filme, dá até um desprezo pela raça humana. O ponto em que alguém pode chegar, se rebaixar tanto, rastejar no chão por comida, verdadeiros bichos, algo que ninguém nunca espera ver na vida. Nada menos que chocante.

Julianne Moore estava espetacular. Passou toda a emoção que as cenas exigiam, foi brilhante na atuação e no papel a que foi designada. A líder do bando, protetora, a única vidente.

A função dessa personagem no filme é fundamental. Pra mim, é pra mostrar como o ser humano é dependente do outro. Aquelas pessoas precisavam dela para absolutamente tudo. "Eu não consigo mais te imaginar como minha esposa. Voce me dá banho, me alimenta e até limpa a minha bunda"

Além disso, a força que ela demonstra com o desenrolar da trama é impressionante. Na sua primeira cena, ela se mostra uma mulher delicada, que vive de fazer janta para o marido e ouvir os casos dele no trabalho. Quando é exposta à toda aquela situação, ela se torna a líder do grupo, a referência de todos e chega até a matar por isso. Aí o exemplo de que o homem é fruto do meio: vivendo naquele ambiente, ela em alguns momentos se igualava à eles.


Ok.

Tenho que falar do Gael agora.

Ele não aparece muito. Mas é muito importante pra trama. É o líder do mal, o cara que toca o terror dentro do hospício. O vilão, mas o mais cômico também (eu ri umas tres vezes, mas se for contar com o contexto do filme, rir meia vez já é bastante, imagina três). Ele, apesar de nao ser muito óbvio, me parecia ser o humano retratado. Enquanto todos viviam como animais, ele não se desprendeu da sua vida bandida: ainda carregava uma arma, e queria roubar o que as pessoas nem tinham, além de trocar comida por mulheres. Ele explorava o desespero daquelas pessoas, uma faceta bem humana.
Brilhante, Gaelzinho, como sempre *-*
(eu tento ser imparcial mas nao consigo haahha)



Ah, Fernando Meirelles.
Mesmo diretor de Cidade de Deus, e, Som&Fúria agora. Sensacional.




Enfim, recomendo, pra quem tem estômago.



#Soundtrack: Free - Cat Power

3 comentários:

Estel C Tuk disse...

Acho esse filme simplesmente brilhante. E quanto ao comentário de Meirelles ser sensacional, eu diria que ele é até mais, até mesmo o própio Saramago foi às lágrimas vendo sua obra na telona pelas mãos desse diretor que conseguiu traduzir e transmitir tudo (talvez quase ;D)o que Saramago descreve de forma absolutamente fiel o_o
Vou contar moedinahs e fazer dele meu "filme de cabeceira", rs, simplesmente TU-DO n_n"
;***

Willian Ferreira disse...

Acho que não tenho estômago pra tudo isso não. O livro deve ser bom. Li algumas passagens já. Mas ver a concepção do diretor do filme por vezes é chocante. Demais. Pra mim.

.Luks disse...

Realmente, Ensaio sobre a Cegueira e marvailhoso!*_*
Beijos

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